A história de Macapá começou a ser escrita bem antes do século 15, mas foi durante a fase das expedições de descobrimento e desbravamento que se tem os primeiros registros. O período que antecedeu a colonização foi marcado pela ausência de povoado permanente.
Na terceira reportagem especial da série “Macapá de Encontros”, em homenagem aos 264 anos da capital, a Prefeitura lembra alguns personagens em que vida e carreira se entrelaçam com a história da cidade e permanecem vivos em diferentes lugares e moradores.
No século 17, aconteceram as primeiras invasões estrangeiras e foi quando, de fato, iniciou a ocupação na Amazônia e, consequentemente, na região onde hoje é o Amapá. Este período foi marcado pela militarização da região que se deu através da construção de fortes, realização de missões e do comércio de produtos florestais, conhecidos como drogas do sertão.
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De acordo com o historiador Aroldo Vieira, os primeiros imigrantes que chegaram ao então povoado de São José de Macapá vieram da Europa.
“Eram moradores das Ilhas de Açores e da Madeira, que vieram para cá mediante determinação do Marques de Pombal. Eles eram transportados através da Companhia de Comércio Portuguesa por companhias de transporte contratadas pela Coroa e ao chegar aqui ganhavam uma recompensa em dinheiro”, explica.
A efetivação da colonização se deu no século 18, quando houve a incorporação da Capitania do Cabo Norte, que antes eram terras espanholas, ao domínio Português, que foi realizado através do Tratado de Madrid, assinado em 1750.
A historiadora e pesquisadora do Programa de Pós-graduação em História da Universidade de Brasília (UnB), Marcella Viana, destaca que durante esse período que antecedeu a criação do Território Federal do Amapá e nos anos de vigência dele, várias pessoas se destacaram em função da atividade que desenvolveram.
“Nossa história passa pelas mãos de pessoas públicas e anônimas, que chegaram até a região, se estabeleceram e contribuíram com o desenvolvimento, construindo e consolidando a identidade cultural de Macapá.
Marcella Viana
Hoje essas pessoas são homenageadas em nomes de ruas, instituições de ensino, equipamentos públicos como forma de manter viva a memória de toda sua contribuição.
Conheça algumas dessas pessoas:
Hildermar Maia
O paraense que dá nome a uma importante rua da cidade, chegou a Macapá em 1957, para trabalhar como promotor público, quando ganhou destaque por sua atuação em defesa das mulheres e crianças. Na carreira, também ocupou o cargo de secretário geral do Governo do Amapá e foi suplente do deputado federal Coaracy Nunes. Faleceu em 21 de janeiro de 1958, em um acidente aéreo enquanto visitava eleitores no distrito de Carmo do Macacoari. Na aeronave estavam o deputado federal Coaracy Nunes e o piloto Hamilton Silva, que era amapaense, todos mortos na tragédia.
Coaracy Nunes
Coaracy Gentil Monteiro Nunes era irmão de Janari Nunes. Bacharel em Direito, um ano após a criação do Território Federal do Amapá, ele trabalhou com o irmão, que foi o primeiro governador do Território. Posteriormente foi eleito deputado federal pelo pleito suplementar de janeiro de 1947, quando integrou as comissões de Segurança Nacional e de Valorização da Amazônia. Além de ser homenageado com o nome de rua na capital, Coacary Nunes também dá nome à primeira Usina hidrelétrica da Eletrobras Eletronorte construída na Amazônia.
Cândido Mendes
Em Macapá, Cândido Mendes é um dos nomes mais conhecidos da capital, pois batiza a principal rua comercial do centro da cidade. O maranhense de São Bernardo do Brejo dos Arrapurus foi promotor público em São Luiz, professor de História e Geografia e membro da Academia de Letras do Maranhão.
Eleito para os cargos de deputado e senador no período do Império, tem entre suas publicações, o manuscrito Pinsônia, que era o projeto de criação da Província de Pinsônia, localizada na região do Cabo do Norte no Amapá. Posteriormente o presidente Getúlio Vargas colocou essa ideia em prática através da criação do Território Federal do Amapá.
Deusolina Salles Farias
A paraense Deosolina Salles Farias formou-se professora na Escola Normal do Pará em 1941. Quatro anos depois se apresentou ao representante do Território Federal do Amapá, no Pará, para conversar a respeito da educação no território, que eram descritas com precárias.
Em 1946 foi diretora do Grupo Escolar Veiga Cabral e dentro da área educacional, foi uma das responsáveis pela padronização do currículo primário, que serviu para todas as escolas do extinto Território do Amapá. Ela foi eleita vereadora e tomou posse em 1º de janeiro de 1973. Deusolina faleceu em dezembro do mesmo ano.
Mestre Sacaca
Raimundo dos Santos Souza, conhecido popularmente por mestre Sacaca foi o primeiro funcionário do antigo Parque Florestal de Macapá, hoje Fundação Bioparque da Amazônia. Sua relação com as plantas foi incentivada desde a infância pela mãe, que sempre o orientou na produção de remédios caseiros.
O trabalho de mestre Sacaca se tornou referência para pesquisadores da fauna e da flora da Amazônia, entre eles, o doutor Valdomiro Gomes, que foi o responsável por ensinar Sacaca a manusear e tirar o princípio ativo das plantas. A junção do conhecimento empírico alinhado a atividades científicas, lhe rendeu fama e o título de doutor da floresta.
Tia Chiquinha
Francisca Ramos dos Santos, popularmente conhecida como tia Chiquinha, foi mãe de 11 filhos. Ela foi esposa de Maximiano Machado dos Santos, o Bolão, conhecido por ser um grande tocador de instrumentos de percussão, como pandeiro, tambor de batuque e surdo de marcação.
Moradora do Quilombo do Curiaú, local onde nasceu, ela era conhecida por ser dançadeira e cantadeira de marabaixo e batuque e sempre participava dos festejos do bairro Laguinho, onde morou por um tempo.
Tia Chiquinha foi matriarca de uma família composta por percussionistas autodidatas e dançadeiras de marabaixo, que foram e são responsáveis por manter viva esta tradição cultural.
Dona Esmeraldina
Filha de tia Chiquinha, e como sua mãe, é uma das maiores responsáveis pela divulgação da cultura local. Há 20 anos também exerce a função de escritora. Moradora do Quilombo do Curiaú, dona Esmeraldina também é cantadeira e dançadeira de marabaixo e em todo material que produz faz questão de mostrar a herança da manifestação cultural afro religiosa. Em 2021 lançou os livros ‘O Encanto do Boto’ e o ‘Sonho de Uma Menina’, que teve diversas cópias entregues às bibliotecas das escolas da rede municipal de ensino.