‘Estamos resgatando nossa história’: população negra amapaense celebra resultados do Projeto Genoma Brasileiro

Entrega resgata ancestralidade, valoriza a história afrodescendente e reforça políticas públicas de saúde no Amapá

Por Etienice Silva - Secretaria Municipal de Comunicação Social

| Foto: Etienice Silva/PMM

O Centro de Cultura Negra Raimunda Ramos foi palco de um evento histórico na Semana da Consciência Negra. Quilombolas e moradores das comunidades negras de Macapá e Mazagão Velho receberam os resultados do Projeto Genoma de Referência do Brasileiro, um trabalho pioneiro que resgata a ancestralidade e reforça ações de saúde voltadas para a população negra. 

A entrega dos resultados do Projeto Genoma de Referência do Brasileiro (GRB), realizada na última sexta-feira (22), no Centro de Cultura Negra Raimunda Ramos, reuniu 130 participantes das comunidades quilombolas de Macapá e Mazagão, além de lideranças, pesquisadores e autoridades, que celebraram o resgate da identidade afrodescendente.

O projeto, desenvolvido em parceria entre a Prefeitura de Macapá, a Universidade de São Paulo (USP) e entidades locais como a União dos Negros do Amapá (UNA), busca conectar a população negra às suas origens africanas por meio de análises genéticas.

“Minha mãe sempre dizia que a gente precisa saber quem é para caminhar com firmeza.” Fala de Raimunda Lina da Silva, moradora do Quilombo do Curiaú. Para Raimunda, o resultado do GRB é uma forma de dar continuidade ao legado de sua mãe, a Tia Zefa, figura tradicional amapaense na história do Marabaixo. “Estou fazendo isso por ela, por tudo o que ela nos ensinou sobre a importância das nossas raízes. Hoje, me sinto mais forte e conectada com a nossa história”.

“Hoje é um dia histórico para a comunidade negra do Amapá. Saber de onde viemos nos ajuda a planejar para onde queremos ir. Mais do que um resgate cultural, este projeto traz saúde, dignidade e políticas públicas para nossa população”, afirmou Paulo Roberto, diretor do Instituto Municipal de Promoção de Políticas Raciais de Macapá. 

Além do resgate cultural, o GRB tem como objetivo mapear predisposições genéticas que possam orientar políticas públicas de saúde. Para João Monteiro Bamileke, historiador e articulador do projeto, essa é uma oportunidade única de reconexão.

“A história do povo preto no Brasil foi cruel. Muitos documentos foram destruídos, mas a ciência hoje nos permite recriar esses vínculos ancestrais e trabalhar na preservação da saúde das comunidades”, explicou. 

A secretária municipal de saúde de Macapá, Erica Aimoré, destacou o alcance do projeto. “Não se trata apenas de coletar DNA. Nossa equipe foi até comunidades quilombolas como Curiaú, Maruanum e Casa Grande para ouvir histórias, entender contextos e construir um diagnóstico completo. Com isso, poderemos criar ações preventivas e salvar vidas”, afirmou. 

Cristina Almeida, coordenadora-geral da União dos Negros do Amapá, entidade que articulou junto ao Improir o projeto GRB em Macapá, reforçou a importância do momento. “Nosso povo foi retirado de nossas terras sem direito a saber quem somos. Hoje, ao recebermos os resultados desse projeto, reconectamos nossas histórias e fortalecemos nossa luta.”