Empreendedores que vão para o Shopping Popular relembram os anos às margens do Canal da Mendonça Jr

Macapá, meados de 1993, Avenida Mendonça Júnior. Às margens do canal, o número de trabalhadores autônomos e informais crescia rapidamente. Era o início da formação de uma classe que fomentaria a economia e “privatizaria” aquele espaço público por conta própria. Ali surgiria o então camelódromo de Macapá, ocupado por dezenas de pessoas que comercializavam diversos produtos. Para eles, tratava-se de uma alternativa de emprego ou saída para driblar o desemprego. Para o poder público, um contexto complexo e polêmico.

Com localização estratégica e cercada por empreendimentos que concentravam um fluxo diário e intenso de clientes, a Mendonça Júnior logo ganhou forte identidade ao abrigar o “camelódromo de Macapá”, reunindo dezenas de trabalhadores informais.

Quem nunca passou por lá sem se render a olhar ou até mesmo comprar mercadorias tipicamente expostas em mesas, penduradas em pequenas barracas de madeira ou até mesmo colocadas nas calçadas? Eram bolsas, confecções, calçados, relógios, CD’s piratas, acessórios, brinquedos, entre outros artigos. O local ganhou movimento e passou a ser referência de preço baixo.

Cotidiano
Com o olhar atento sobre recortes de jornais e fotografias antigas, Paulo Sérgio Rodrigues recorda sua vida nos anos 90. Ele relata com detalhes como tudo começou e como foi parar como comerciante às margens do canal da Mendonça Junior, assim como tantos outros que tiravam daquele local o sustento da família. A memória traz de volta as dificuldades diárias para driblar a fiscalização (o famoso “rapa”).

Ele conta que, naquele pequeno espaço, por vários anos, seu Paulo, junto com outros trabalhadores buscaram a sobrevivência em rotinas cansativas e extensas jornadas de trabalho sob o Sol forte ou a chuva. Muitas vezes tendo que enfrentar os fiscais e a hostilidade dos comerciantes das lojas. Tumulto e correria por vezes fizeram parte do dia a dia dos chamados camelôs da Mendonça Júnior. “Alguns de nós, com o passar dos anos se tornaram personagens típicos conquistando clientes na alegria e forma descontraída de apresentar o produto”, relatou Paulo.

De Pai pra Filho
O comércio de rua que garantiu a Paulo Sérgio Rodrigues meios para a criação dos quatro filhos, dando a dois deles a formação de médico e engenheiro respectivamente, incentivou o caçula, Paulo Sérgio Rodrigues Filho a seguir os passos do pai.

Aos 11 anos de idade, o então menino Paulo Filho ainda sem experiência foi ganhando jeito com os negócios e hoje é dono do próprio empreendimento. “Comecei lá no camelódromo da Mendonça Júnior. As coisas eram bem mais difíceis, mas nossa persistência e esperança em dias melhores nos fizeram chegar aqui. Tenho orgulho do meu pai, que apesar da labuta e lutas pela dignidade desses trabalhadores, hoje, representa nossa categoria. Ele é Presidente da Associação dos Pequenos Empreendedores do Estado do Amapá, disse.

Memórias de Luzia
“Cidade aparentemente fértil com novas oportunidades de trabalho e um povo acolhedor. Foi assim que vi e me senti na capital amapaense há 27 anos quando cheguei aqui”, relembrou Luzia Pereira. Ela saiu do Pará em busca de uma vida melhor, mas a realidade da época não correspondeu às expectativas.

Desempregada, foi no comércio ambulante que Luzia encontrou alternativas para sobreviver. Se juntou a outros trabalhadores autônomos da Mendonça Júnior. Em cima de uma pequena mesa de madeira improvisada comercializava fitas cassete. Foi ali que tudo começou. Atualmente Luzia ocupa um dos boxes da Avenida Antônio Coelho de Carvalho, conhecido como “Feirão Popular”, e vai se mudar no próximo sábado para o Shopping Popular que será entregue pela Prefeitura de Macapá.

Lembranças
O Canal da Avenida Mendonça Junior deixou de ser espaço para o mercado popular informal há alguns anos, mas quem passou por lá, fez história e construiu progressos que guarda nas lembranças. Passados 13 anos de quando foi remanejada para o ‘Feirão Popular’, dona Luzia voltou ao canal com a nossa reportagem.

Emocionada, falou das dificuldades que passou ali, dos momentos angustiantes quanto teve mercadorias apreendidas, mas logo contém as lagrimas e diz: “Não fosse tudo ter começado aqui, hoje eu não teria a vida que tenho. Até meu marido conheci aqui. E foi por aqui que construí minha família. Sou mãe de 4 filhos, dois deles e minha neta trabalham comigo hoje, tenho muito orgulho de tudo isso”, disse.

Progresso
“Era em cima de um pedaço de pano na calçada do canal da Mendonça Júnior que eu colocava em exposição minhas mercadorias. Eram poucas, alguns relógios, baterias e CD’s, mas o suficiente para chamar a atenção dos clientes e fazer minhas vendinhas. No fim das contas dava para garantir o pão de cada dia, e foi assim por mais de 20 anos”. Esta é a história do seu José Ponciano da Costa.

“Criei meus dez filhos trabalhando com esse tipo de atividade. Passei pelo canal, consegui um box no ‘Feirão Popular’ e agora a prefeitura está me dando a chance de diversificar mais ainda meus negócios, pois fui contemplado com um espaço no Shopping Popular. Estou com 79 anos de idade e tenho muitas histórias, entre elas, meu progresso naquilo que escolhi para trabalhar”, concluiu.

Shopping Popular
A obra do Shopping Popular foi planejada para comportar os microempreendedores da Feira do Caranguejo e Feirão Popular da Antônio Coelho. A cerimônia de entrega acontecerá no próximo sábado (15), às 9h, com transmissão ao vivo pela página da prefeitura no Facebook.

A obra foi realizada pela Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura (Semob) com o recurso de R $3.982.125,27, conseguido através de emenda parlamentar do senador Davi Alcolumbre (DEM/AP).

Mônica Silva
Secretaria Municipal de Comunicação Social