Dia 3 de março é o Dia Mundial da Vida Selvagem. A data foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) e escolhida por ser o aniversário da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção (CITES), assinada em 1973.
Entre outros objetivos, a iniciativa visa conscientizar a população sobre a importância da preservação da fauna e flora e seus habitats, alertando para o risco de extinção de uma diversidade de espécies.
Neste contexto de conscientização e cuidados para a preservação das espécies, o Bioparque da Amazônia, maior espaço urbano de área verde no Amapá, abriga em seus 107 hectares, três ecossistemas (floresta de terra firme, área de ressaca e cerrado) com variedades de animais e vegetais, desempenhando um papel de extrema relevância, no que diz respeito à educação ambiental.
O parque recebe mensalmente centenas de visitantes, dos mais diversos públicos, mas principalmente, estudantes que procuram o espaço para conhecer, pesquisar e desenvolver trabalhos em suas áreas de estudos.
Além das inúmeras espécies da flora amazônica preservadas no parque, vivem ali, alguns animais em logradouros, vítimas de caçadores ou maus tratos, cujas sequelas se tornaram irreversíveis a ponto de ser impossível o retorno desses animais aos seus habitats naturais.
O fera, é uma onça-pintada macho, de aproximadamente 8 anos, e de acordo com o guarda-parque Fabio Costa, é um animal que perdeu a mãe, vítima de caçadores, e foi resgatado ainda filhote, por soldados do exército, e por ter a visão afetada, permanece no parque, pois não sobreviveria se fosse solto em seu ambiente natural.
A Onça-pintada é uma das espécies de animais que constam na lista do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) como ameaçada de extinção. As principais causas são a caça ilegal e o aumento do desmatamento e queimadas. O animal é o maior felino das Américas e o terceiro maior do mundo, depois dos tigres e dos leões.
Outra história triste é a do jacaré-açu. No início da pandemia de covid-19, o animal apareceu próximo ao bairro Perpétuo Socorro, zona norte de Macapá, seguindo possivelmente o trajeto do Rio Amazonas. Porém, para sua infelicidade, foi visto por um grupo de pessoas que passou a agredi-lo com pauladas e outros atos violentos. E somente após o animal estar totalmente machucado é que chamaram o resgate. Infelizmente, como resultado das agressões, o jacaré-açu, ficou totalmente cego e, por esse motivo, vive hoje tolhido de sua liberdade. Hoje, o animal tem entre 20 e 23 anos de vida, mede 4 metros e pesa cerca de 270 quilos.
A espécie é o maior de todos os jacarés, podendo chegar a 6 metros de comprimento e até 300 quilos de peso. Sua média de vida é de 80 anos, mas pode chegar aos 100.
Hoje em dia, o jacaré Açu está ameaçado de extinção, pois seu couro é muito cobiçado e sua carne muito saborosa. Os fazendeiros geralmente os matam porque representam perigo para suas criações. O jacaré Açu também é conhecido por ‘caimão-preto’, ‘jacaré-aruará’ ou jacaré-gigante.
O ideal seria que não houvesse nenhum animal em logradouro no Bioparque, pois a existência deles ali, é resultado da falta de consciência e sensibilização de alguns humanos que os maltrataram de tal forma, que os impossibilitaram de viverem livres nas florestas. Então, hoje a função dessas espécies no parque, é a de servir como exemplo e reflexão aos visitantes, sobre como não se deve agir em relação aos animais.
“Às vezes, as pessoas, por medo e desconhecimento, ao avistarem um animal selvagem ou peçonhento, atacam a espécie com intuito de matá-la, quando deveriam, imediatamente, contatar os órgãos responsáveis pelos resgates, como por exemplo, o Batalhão Ambiental”, ressaltou o guarda-parque, Fabio Costa.
Atualmente, de acordo com Fabio Costa, aproximadamente 8 espécies de animais vivem em logradouros. Além do Fera (onça-pintada) e do jacaré-açu, vivem em cativeiro, os macacos-prego, uma guariba (uma espécie de primata, também chamada de bugio), antas, tartarugas, jabutis, araras, entre outros animais. Todas as espécies em logradouro no parque sofreram algum tipo de violência ou foram acometidas de doenças que deixaram sequelas irreversíveis.
Fora dos logradouros, possivelmente, vivem livres nos ecossistemas do Bioparque, uma diversidade de animais, como os macacos, quatis, tamanduás, bichos-preguiça, cutias, capivaras, serpentes, pássaros de várias espécies, tatus, uma variedade de peixes nas áreas de ressaca, onde possivelmente há sucuris e outros animais da fauna amazônica.
No Bioparque da Amazônia, o visitante ainda pode conhecer o Ecótono, que é o encontro de três ecossistemas formados por florestas de terra firme, cerrado e campos inundados (área de ressaca). Além de ter como uma das principais atrações o Meliponário, que abriga abelhas sem ferrão, que são as principais polinizadoras da floresta amazônica, onde a produção dos frutos depende desses insetos.
Segundo o guarda-parque Hemerson Santos, a criação do Meliponário iniciou com 5 colmeias e atualmente são 136 unidades no espaço. As abelhas ainda não produzem mel suficiente para a comercialização.
De acordo com estudos realizados pelo IBAMA, no Brasil, o uso indiscriminado de pesticidas e agrotóxicos ameaçam de extermínio as inúmeras espécies de abelhas, marimbondos, borboletas, morcegos, formigas, moscas, vespas, além do beija-flor. Ainda há o agravante das queimadas e derrubadas das matas. Este não é um problema somente do Brasil, mas do mundo.
“Sempre passamos ao visitante a importância de todos os seres da natureza para a manutenção da vida. Em especial, das abelhas, que são as principais responsáveis pela polinização e manutenção do equilíbrio ambiental”, destacou o guarda-parque Fabio Costa.
A fundação Bioparque da Amazônia garante a sobrevivência e segurança das espécies que vivem no local, por meio de cuidados realizados pelos cuidadores, guarda-parques, biólogos e médico veterinário, que realizam o check-up periódico nos animais.
A existência da vida selvagem na natureza é de suma importância para a sobrevivência da humanidade.
Esses seres, em conjunto, praticam a sustentabilidade naturalmente, com suas ações ecossistêmicas para a manutenção da vida.
Funcionamento do Bioparque da Amazônia
O parque funciona de quarta a domingo, de 9h às 17h, com taxa de entrada de R$ 10,00 e meia R$ 5,00. A gratuidade é para crianças de 0 a 5 anos, pessoas com deficiência e idosos.
As atividades de turismo de aventura, tirolesa, parede de escalada e arborismo possuem valores diferenciados.
Individuais: R$ 25,00 – Combo: R$ 40,00
Para as visitas guiadas e circuito de ciclismo é necessário solicitar agendamento presencialmente na instituição.
O passeio apresenta noções de educação ambiental e atende o público infantil e adulto de escolas e universidades, grupos integrantes de igrejas, Ongs, diversos centros de assistência e projetos sociais.
Entrevistados: Fabio Costa de Souza e Hemerson Santos, guarda-parques do Bioparque da Amazônia.
| Fotos: Mary Paes /PMM