Shopping Popular: empreendedorismo feminino, uma história de força e coragem

Lutar para conquistar espaço, ter seu próprio negócio e repassar para gerações seguintes. Empreendedorismo feminino é isso mesmo, significa ser persistente e acreditar em dias melhores. Mães são guerreiras, principalmente as empreendedoras, lidar com a jornada múltipla entre trabalho e cuidado com os filhos não é nada fácil.

A história que vou contar é sinônimo de resistência. O sonho de uma mulher forte que se tornou realidade, ou melhor, virou um negócio de sucesso que já ultrapassa três gerações. O empreendimento feminino estará presente no Shopping Popular.

Desde pequenas, as mulheres aprendem a serem fortes e corajosas, sendo uma questão de sobrevivência. Foi o caso da empreendedora Luzia Pereira das Chagas, de 53 anos. Nascida no Rio Grande do Norte e crescida no estado do Pará, Dona Luzia veio morar no Amapá aos 26 anos, seguindo os passos do pai Manoel Pereira, que trabalhava de ambulante nas ruas de Macapá.

O início de um sonho

Empreendedora há 27 anos, Luzia Pereira trabalhou incansavelmente desde o seu segundo dia em terras macapaenses. Por quase cinco anos, ela acordava cedo e saia para o serviço autônomo, sentava-se no antigo banco do Canal da Mendonça Junior e se protegia do sol escaldante com uma sombrinha. Tudo isso para vender fitas cassetes.

Com o tempo, a batalhadora inovou, comprou importados, mini games, relógios e bolsas de viagens. Até que foi remanejada do local. ‘’Não foi fácil. Esperamos por 30 dias para uma definição de espaço. Trabalhei de mototáxi nesse período para sustentar minha família, pois não tinha emprego, nem renda e nem dinheiro guardado’’, relata.

Com receio do novo espaço, localizado na avenida Antônio Coelho de Carvalho e conhecido como ‘Feirão Popular’, Dona Luzia não esmoreceu nenhum dia. Durante todos esses anos no local, as dificuldades foram enormes.

‘’Logo no início, as vendas eram difíceis. Teve um dia que eu só tinha dinheiro para refeição dos meus filhos. Então menti, disse a eles que não estava com fome. Qual a mãe que vai comer e deixar os seus filhos com fome? Eu prometi que isso jamais aconteceria novamente’’, recorda emocionada.

Lutar quer dizer não deixar de acreditar que é possível alcançar seus sonhos através do trabalho. Mesmo sem um local adequado, embaixo de uma estrutura de ferro, a empreendedora seguia firme.

No período das chuvas, a mercadoria ficava encharcada, o chão inapropriado alagava, causando prejuízo. No verão, o calor da cidade cortada pela linha do equador maltratava, mas não tirava o sorriso no rosto para atender o cliente. O Shopping Popular vem trazer dignidade para uma batalhadora.

‘’As dificuldades existiram, mas superamos unidos o sofrimento. Mesmo não sendo fácil. O Shopping Popular significa esperança, uma conquista de espaço digno. Estamos cheios de expectativas. Costumo dizer aos meus colegas de trabalho que antes éramos uma voz na escuridão, hoje somos histórias de superações. O que era para durar 8 meses, finaliza com 13 anos de batalhas’’, afirma.

Gerações de empreendedores

A empreendedora foi resiliente, criou quatro filhos, três meninos e uma menina, com o suor do trabalho. Ensinou a arte de vender para seus descendentes. O empreendimento já perdura há três gerações, com a venda de mochilas, importados e variedades.

Dona Luzia garantia a alimentação da família, sendo necessário sacrificar um leão por dia. Os filhos tinham que frequentar a escola, considerada garantia de um futuro melhor. A mãe jamais permitiu que desistissem. Hoje, ela é o espelho de uma mulher forte, tida como sinônimo de resistência.

‘’Ser mãe, mulher e empreendedora é gratificante! Meus filhos se espelham em mim. Eles são minha maior riqueza. Um deles, o Sérgio, vai se formar em história e está produzindo um TCC baseado na minha história como empreendedora. A Luciane, tem 19 anos e já passou no vestibular. Todos estudam em universidade pública, pois não temos condições para pagar particular’’, diz emocionada.

Com o advento da pandemia do novo coronavírus, Dona Luzia toca o negócio da família com o apoio da neta Izabelly Santos, de 15 anos, sua fiel escudeira nas horas de trabalho. Avó e a neta são inseparáveis. No período de restrição máxima, elas ampliaram as vendas para o mercado digital.

‘’Com a Covid-19, não tive mais aulas presenciais, somente on-line. Vim ajudar a vovó e isso melhorou muito a nossa relação. Ela acorda cedo com frequência, ou às vezes nem dorme. Me inspiro todos os dias na história dela, pois na minha visão, ela é a mulher mais forte do mundo, pois jamais desistiu’’, explana Izabelly.

A rotina após um dia exaustivo de trabalho continua em casa. Luzia ainda cuida do pai com Alzheimer. A doença o fez esquecer das memórias de ambulante de rua, que tanto a inspirou. Não existem lamentações, somente a sensação de orgulho, de dever cumprido, que enche o coração de esperança em dias melhores.

O desfecho da história tem um final feliz. O empreendimento fundado por dona Luzia, com o nome ‘Izabelly Mochilas e Variedades’ estará presente no Shopping Popular, que será inaugurado pela Prefeitura de Macapá em maio.

Shopping Popular
A obra do Shopping Popular é um investimento na economia popular e incentivo aos microempreendedores. O local será ocupado pelos trabalhadores da Feira do Caranguejo e do Feirão Popular da Avenida Antônio Coelho de Carvalho, no centro da cidade.

A obra foi executada pela Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura (Semob) e custou R$ 3.982.125,27. O recurso foi destinado através de emenda parlamentar do senador Davi Alcolumbre (DEM/AP).

O prédio é dividido em dois andares, terá 114 unidades comerciais internas, 20 unidades externas, dois quiosques institucionais, duas áreas de serviço e plataforma de acessibilidade. No andar superior estão sete unidades comerciais, praça de alimentação, e dezesseis banheiros, sendo oito masculinos, sete femininos e um para pessoas com deficiência.

Aline Paiva
Secretaria Municipal de Comunicação Social