Prefeitura de Macapá valoriza a cultura e a história de seus habitantes

Mary Paes – Secretaria Municipal de Comunicação Social

Monumento Povos do Meio do Mundo | Foto: Jesiel Braga /PMM

Um povo rico não se determina apenas pelo seu poder econômico, mas também pela preservação e valorização de sua história e de seu patrimônio de cultura material e imaterial. Neste contexto de importância artística e cultural foi construído o obelisco intitulado Monumento Povos do Meio do Mundo. A escultura é uma obra de arte de 18,30 m x 8,0 m, uma das maiores da região norte, e representa a construção da capital do Amapá, valorizando os habitantes que deram origem a essa cidade, que em 4 de fevereiro, completa 266 anos de muitas histórias para contar.

De acordo com J.Marcio, artista visual responsável pela construção do monumento, a obra é composta por quatro bustos, com as representações dos povos negro, indígena, ribeirinho e caboclo.

A mulher negra é uma das personagens, e representa a mulher empoderada e destemida fazendo jus à ancestralidade de lutas, conquistas e cultura marcante na história do negro em toda a região. Esses simbolismos estão em alto-relevo, encravados no obelisco.

O Caboclo representa a luta, o desenvolvimento e o trabalho do homem do campo, por meio da agricultura e pecuária, evidenciando o talento e amor aos rios e à terra nas mãos dos povos das florestas.

O busto da jovem indígena traduz a riqueza da pintura corporal que é expressada em todas as etnias, destacando os antepassados Maracás e Cunanis e preservando as raízes desse povo ancestral.

O Ribeirinho, por sua vez, traduz a poesia, alimentos e viagens sobre o rio Amazonas. Exalta as riquezas nativas, como o açaí e a bacaba, navegando e fomentando a economia da Amazônia.

A expressão do autêntico ribeirinho transfere um olhar de vivência e oralidade perpetuada pelos rios e igarapés da região. 

No monumento, todos os personagens se fundem e sustentam uma aliança ou coroa, acima de suas cabeças, em direção ao céu, denotando a força e a conquista que vem do esforço de todos esses povos em comunhão.

Concepção da obra

A partir da ideia de construção de um obelisco que valorizasse a história dos primeiros habitantes do Amapá, o prefeito de Macapá, Dr. Furlan pensou num artista visual com essa carga de conhecimentos e sensibilidade, que se debruçasse sobre a ideia da valorização do povo amapaense e a materializasse num monumento da identidade cultural dessas pessoas.

E foi assim que o artista J.Marcio  se tornou a pessoa  responsável pela construção do Monumento Povos do Meio do Mundo.

Para a construção do monumento foram utilizados na composição, cimento, ferro e fibras.

Equipe trabalhando na construção do Monumento | Foto: Jesiel Braga/PMM

A estrutura da obra é toda em ferro, revestida por placas cimentícias com alto relevo.

Os bustos foram construídos a partir de ferro, isopor e fibra de vidro.  Toda a obra foi modelada pelas mãos dos artistas envolvidos.

 Jean Leão é o arquiteto que assina a construção da obra.

Perfil do artista J.Marcio

Jamesson Marcio Carvalho, conhecido no mundo da arte como J.Marcio, é um artista visual com ênfase em escultura, pintura e desenho. É o marido dedicado da Glenda Carvalho e pai do Arthur Carvalho, de 17 anos e o caçula de 13 anos, Asafe Carvalho.

É o quarto filho de dez irmãos. Seus pais, o senhor José Jocírio Ferreira de Carvalho e dona Maria Rita Pinheiro de Carvalho. Começou a carreira muito cedo, aos nove anos de idade, abrindo letras e pintando nomes em barcos ancorados no Igarapé da Mulheres

Artista J.Marcio | Foto: Jesiel Braga /PMM
Equipe de trabalho | Foto: Mary Paes /PMM

Aos 15 anos, J.Marcio montou seu primeiro ateliê, onde teve os primeiros contatos com a cultura, conhecendo artistas da música e mais tarde, a Escola Cândido Portinari.  Começou suas atividades exclusivamente com a Comunicação Visual. Depois, aos 22 anos, já formado no magistério, ingressou como professor na rede pública estadual, conhecendo um pouco das riquezas do interior do Amapá.

Aos 24 anos iniciou o curso de Artes Visuais na Universidade Federal do Amapá (Unifap) e em 2009 chega ao Centro de Artes Visuais Cândido Portinari, onde atua como professor até o momento desta reportagem.

J.Marcio tem obras distribuídas por todo o mundo e já realizou diversas exposições, dentro e fora do estado. Mas ressalta que as ruas são suas principais galerias onde o expectador pode ver e contemplar seus trabalhos. Com uma carreira consolidada há mais de 30 anos, é inquieto em suas experiências e experimentações de matéria-prima, suporte e forma. 

“Eu gosto de ver minhas obras expostas na rua, porque não há limites para o número de pessoas que irão prestigiar o meu trabalho. Em galerias fechadas, poucas pessoas poderão contemplá-las, e por um tempo limitado”, afirmou o artista.

obre o convite para a construção do monumento, o artista conta que houve um processo de pesquisa, estudo do espaço e vários esboços não aprovados, até chegar na ideia final, aprovada pelo prefeito e sua equipe. Para J.Marcio, estar diretamente envolvido na idealização e construção do monumento Povos do Meio do Mundo é gratificante e realizador.

“É uma honra fazer parte da história de Macapá, junto com os meus amigos. É a realização de um sonho. E este sonho perpassa pela valorização do artista local. É uma responsabilidade construir uma obra de arte dessa magnitude, que é tão representativa para o povo, não só de Macapá ou do estado, mas de grande parte do Brasil e principalmente da Amazônia”, ressaltou.

O próprio artista se vê como um empreendedor, que oportuniza pessoas a desenvolverem seus talentos. É parceiro e amigo, sempre disposto a auxiliar quem busca por apoio na arte. Ele diz que muitas vezes caminha só, mas não totalmente, porque a alma da arte sempre o acompanha.

Para a construção do monumento Povos do Meio do Mundo, o artista contou com a colaboração de mais 4 profissionais das artes visuais e um encarregado.

Segundo ele, a equipe faz parte da “Galeria de Rua”, um grupo informal, com cerca de dez integrantes.  “Nós trabalhamos juntos quando surgem trabalhos grandes, como este monumento, por exemplo”, enfatizou.

Breve biografia dos artistas

A equipe de artistas visuais envolvida na obra é composta por Jonas Modesto, um jovem de 26 anos, formado em técnicas de artes visuais e terminando a graduação de licenciatura em artes visuais pela Universidade Federal do Amapá (Unifap). Para o jovem foi bastante significativo trabalhar nessa obra, uma vez que, ficou sob a responsabilidade dele a modelagem da personagem negra. “Eu sendo um homem negro, me senti construindo a identidade do meu povo a partir da minha própria origem. Dei o nome da minha avó Carmosina Reis, à personagem, por ela representar essa pessoa negra, matriarca da minha família e ter me influenciado, enquanto viveu, na construção de quem sou hoje”, declarou Jonas, emocionado.

Artista Jonas Modesto | Foto: Mary Paes /PMM
Artista Nilton Santana | Foto: Mary Paes /PMM
Equipe responsável pela composição da escultura | Foto: Mary Paes /PMM

Léo Rodrigues é artista visual Maranhense, atua em Macapá desde 2015, com modelagem em ferro. Seus trabalhos estruturantes dão suporte no carnaval e designer de fachadas e interiores. Sua arte é parte fundamental para o preparo final e acabamento das formas da escultura.

Mais dois artistas compõe a equipe, Dalto Saraiva, de 56 anos, com mais de 30 anos de carreira e Nilton Santana, de 43 anos, com 15 anos de carreira nas artes visuais.

Artista Dalto Saraiva | Foto: Mary Paes /PMM
Encarregado Denilsom Gomes | Foto: Mary Paes /PMM

O encarregado Denilsom Gomes, de 19 anos, foi peça fundamental na produção de massa para a modelagem de toda a estrutura da obra. Ele se apaixonou tanto por esse trabalho que vai se matricular nas aulas de arte do professor J.Marcio.

Toda a equipe envolvida na construção do monumento faz parte do grupo “Galeria de Rua”.

 Breve contexto histórico dos Povos do Meio do Mundo

Inicialmente chamada de Vila de São José de Macapá, a cidade de Macapá foi fundada em 04 de fevereiro de 1758, localizada à margem esquerda do Rio Amazonas.

Os primeiros habitantes do Amapá, e por conseguinte, de Macapá, foram os povos indígenas das etnias “waiãpi”, “palikur”, “maracá-cunani” e “tucuju”. Atualmente, uma grande parte das etnias sobreviventes que habitam o estado, estão na capital estudando e trabalhando.

Segundo Almeida, Claudia (2020), em sua dissertação de mestrado “Uma reflexão sobre o currículo ao rufar dos tambores do multiculturalismo presente no Ciclo do Marabaixo”,  os primeiros negros chegaram à Amazônia por intermédio dos ingleses, que nas últimas décadas do século XVI e na primeira do XVII, tentaram apossar-se do extremo norte do Brasil. Através de Feitorias, entre a costa de Macapá e a zona dos estreitos, tentavam instalar uma empresa colonial agrária de vulto, plantando cana para a fabricação de açúcar.

Uma grande parte do povo negro que aportou no Amapá, entre as décadas mencionadas, e nas seguintes, trabalhou na construção da Fortaleza de São José. A construção do Forte foi iniciada em 1764 e finalizou somente dezoito anos depois, em 1782. Os indígenas também trabalharam na construção do Forte. Hoje o povo negro, com suas danças, crenças, gastronomia e cultura, tem uma importância imensurável para o patrimônio histórico da cidade de Macapá e de todo o Amapá.

A partir da miscigenação de raças (branca, indígena e negra), originou-se o povo caboclo e ribeirinho.

O termo Caboclo,  refere-se aos pequenos produtores familiares da Amazônia que vivem da exploração dos recursos da floresta.

Os principais atributos culturais que distinguem os caboclos dos pequenos produtores de imigração recente são o conhecimento da floresta, os hábitos alimentares e os padrões de moradia.

Já o termo Ribeirinho caracteriza aqueles que residem perto dos rios, vivem da pesca tradicional e do extrativismo, mantendo um estilo de vida natural.

Sobre a Praça Povos do Meio do Mundo

A Praça Povos do Meio do Mundo foi inaugurada no aniversário de 266 anos de Macapá.  Está próxima ao Monumento Marco Zero do Equador e Parque no Meio do Mundo, na Zona Sul da capital.  É uma homenagem da Prefeitura a todos os povos que deram origem à região.

O monumento Povos do Meio do Mundo representa as raízes e os povos indígenas, negros, caboclos e ribeirinhos. Servirão ao público como fonte de pesquisa para estudantes e atração turística aos visitantes. 

O espaço foi construído em uma área de 5.037,55 metros quadrados e inclui: área verde, paisagismo, equipamentos, sistema de irrigação, pavimentação, acessibilidade, calçamento com piso tátil, bancos e parada de ônibus. O investimento total é de R$ 2.085.659.50 do Tesouro Municipal. Foram 146 dias de prazo para a construção da praça.

Os investimentos da Prefeitura de Macapá em Obras Estruturantes visam organizar e embelezar a cidade, bem como proporcionar mais opções de espaços públicos para o bem-estar e interações sociais saudáveis entre familiares e amigos.

| Fotos Jesiel Braga /PMM