Estação magnética instalada no Bioparque da Amazônia coloca Macapá em destaque no cenário científico geomagnético mundial

O Observatório Nacional – instituição científica – ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, instalou, em 2019, uma estação magnética em Macapá, no Amapá, especificamente na área do Bioparque da Amazônia, na rodovia JK. O projeto é realizado por meio de uma cooperação com o GFZ-Potsdam (Centro Alemão de Pesquisas em Geociências), grupo da geofísica da Universidade Federal do Pará, Ieap (Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá) e Prefeitura de Macapá, por meio do Bioparque da Amazônia.

Esta semana, pesquisadores do Observatório Nacional reuniram com colaboradores do Bioparque da Amazônia para falar da importância da estação para a ciência. Por meio da estação magnética, Macapá será possível acompanhar o movimento do equador magnético no território brasileiro. O objetivo é ter o registro da aquisição contínua e interrupta de dados magnéticos, mas especialmente para monitorar a passagem do equador magnético sobre Macapá nos próximos anos.

Diferente do equador geográfico, o equador magnético muda de posição com o tempo. “A projeção é a de que ele [equador magnético] passe sobre Macapá até 2023”, prevê Kátia Pinheiro, pesquisadora do Observatório Nacional. Estes dados magnéticos de diferentes fontes e formas de aquisição compõem um conjunto de dados essenciais para diversos estudos, e são utilizados por diversas instituições, pesquisadores, grupos de pesquisa e empresas no mundo todo.  Além de servir para acompanhar o movimento do equador magnético, do eletrojato equatorial e da Anomalia Magnética do Atlântico Sul. Os dados adquiridos são importantes para outras finalidades científicas e econômicas.

“Todo o conhecimento que se tem do interior profundo da terra e até mesmo de parte da crosta foi obtido a partir de medidas de campos físicos realizadas sobre a superfície terrestre. Por exemplo, as imagens que vemos nos livros didáticos dos modelos de camadas da terra e suas composições só puderam ser geradas a partir da compreensão do campo magnético terrestre, ninguém nunca foi ao núcleo da terra, e, mesmo assim, podemos descrever algumas de suas características”, explica a pesquisadora.

Importância e utilização

Cristiano Mendel Martins, professor e pesquisador da UFPA, disse que os modelos e dados magnéticos também são importantes para prospecção mineral e de recursos energéticos de petróleo e gás. “Aplicações em estudos climáticos também são importantes como a relação da Anomalia Magnética do Atlântico Sul com tempestades e raios e trovões, já que o Brasil é o país com a maior ocorrência de raios. Outra questão está relacionada à preservação da vida. É que o campo magnético terrestre circunda a terra e gera no espaço um escudo que nos protege de radiação e íons nocivos”, esclarece.

Para as telecomunicações, segundo o professor, também é importantíssimo o conhecimento do campo magnético e suas variações, principalmente para os satélites que orbitam na magnetosfera terrestre. Além disso, dados magnéticos obtidos em terra são indispensáveis para a calibração de dados magnéticos satelitais. “Quanto a isto, atualmente, existem poucos observatórios e estações magnéticas próximos ao equador geográfico no planeta, e é por isso que é importantíssima a instalação dessa estação magnética em Macapá. O mundo inteiro está interessado nos dados da estação Macapá, e isso coloca a capital do Amapá em destaque no cenário científico geomagnético mundial”, observa.

A estação magnética de Macapá, no Bioparque fica a 75 metros do prédio do Iepa destinado à instalação dos controladores dos sensores, suprimento de energia e conexão com a internet. É uma base com pouco mais de um metro de altura, com sensores sensíveis a simples presença de objetos magnéticos, metálicos e eletrônicos. “A presença de visitantes inviabilizaria a aquisição dos dados. Assim, uma zona de demarcação de ao menos 50 metros de raio ao redor do sensor precisa ser instalada. Um efeito colateral positivo deste isolamento é ter um hectare de mata permanentemente preservado. A estação é um diferencial do Bioparque hoje”, diz Cristiano Mendel.

Para o diretor do Bioparque da Amazônia, a estação magnética Macapá é de uma importância mundial para a ciência. “É um marco histórico. O Bioparque está fazendo história e isso nos enche de orgulho, pois passamos a prestar um importante serviço à pesquisa, ciência, sociedade e as futuras gerações”, pontua.

Monitoramento

O Observatório Nacional monitora o campo magnético da terra no território brasileiro. O Brasil possui uma localização privilegiada para estudos de geomagnetismo, já que aqui ocorrem dois fenômenos de grande importância científica: a Anomalia Magnética do Atlântico Sul (Amas), onde o campo magnético terrestre é menos intenso; e o eletro jato equatorial, uma corrente eletricamente carregada na ionosfera que é associada ao equador magnético.

Para realizar este monitoramento e dada a vastidão do território brasileiro, o Observatório Nacional instala e mantém observatórios magnéticos, estações de repetição e estações magnéticas, seguindo padrões internacionais de alta qualidade dos dados. Os observatórios magnéticos são estações científicas, onde o campo magnético da terra é medido continuamente durante longos períodos, com grande precisão e de forma contínua.  Atualmente, o Brasil possui apenas dois observatórios magnéticos: Vassouras (VSS), a 120 km da cidade do Rio de Janeiro; e Tatuoca (TTB), localizado em uma ilha em Belém (Pará).

Vassouras opera quase sem interrupção desde 1915 (um dos observatórios mais antigos do mundo) e Tatuoca funciona desde 1957. A longa série histórica de dados geomagnéticos coloca o Brasil em posição de destaque no cenário mundial. Ambos observatórios fazem parte da rede INTERMAGNET (International Real-time Magnetic Observatory Network), que é uma rede internacional de observatórios magnéticos que seguem padrões de qualidade de medição e transmissão de dados em tempo real.

Atualmente, existem dois observatórios magnéticos em construção no Brasil, sob responsabilidade do Observatório Nacional: Pantanal, em Mato Grosso (PNL), em colaboração com o Sesc-Pantanal; e Tefé, no Amazonas (TEF), em colaboração com o Instituto Mamirauá. As estações de repetição funcionam como um complemento para o estudo da variação do campo geomagnético de longo período, já que a distribuição dos observatórios no Brasil ainda é escassa. Estas estações são locais fixos, distribuídos por todo o Brasil, onde idealmente são feitas observações a cada cinco anos.

Devido à vasta extensão territorial do Brasil, nem sempre é possível reocupar todas as estações dentro deste prazo. Atualmente, existem mais de 1.000 observações absolutas no Brasil, distribuídas em 175 estações de repetição, sendo a primeira observação realizada em 1903 e a mais recente em outubro de 2019. As estações magnéticas diferem das estações de repetição por medirem contínua e interruptamente a variação das três componentes do campo magnético em um mesmo local. É o caso da estação magnética Macapá, que foi automatizada.

Secretaria de Comunicação de Macapá

Volnei Oliveira

Assessor de comunicação