Ancestralidade e resistência: roda de conversa destaca afroempreendedorismo com o uso de tranças

Penteado reforça poder histórico-cultural da população preta. Encontro aconteceu na terça-feira (30), em Macapá.

Por Alexssandro Lima - Instituto Municipal de Políticas de Promoção da Igualdade Racial

A Prefeitura de Macapá, por meio do Instituto Municipal de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Improir), promoveu nesta terça-feira (30), na comunidade quilombola do Curiaú, uma roda de conversa com trancistas e afro empreendedoras voltado à compreensão histórico-cultural das tranças ligadas ao afroempreendedorismo.

Com o tema ‘Legado vivo das tranças: da tradição ao afro empreendedorismo’, o encontro entre as trancistas encerrou a programação do Novembro Afro e contou com a participação das palestrantes Karline Coutinho, Jô Libório e Isis Tatiane.

Para a população negra, trançar o cabelo é mais do que um código estético, é herança de uma história de resistência, resiliência e ancestralidade, passada entre mulheres, geração após geração. Manipular o cabelo com tranças é técnica histórica, presente em muitas nações africanas. O princípio é simples, único, entrelaçamento de três mechas de cabelo a partir do couro cabeludo. Mas o simbolismo vai além do movimento e da beleza, representa poder, luta, resistência ostensiva, informação, sistema de linguagem.

O afroempreendedorismo em Macapá é forte, porém com nichos invisíveis. “O nosso papel enquanto parte da gestão municipal é perceber este mercado que cada dia cresce, dá autonomia para mulheres negras, sustentando famílias e alimentando sonhos. E tudo isso é parte da herança ancestral que recebemos e hoje vira negócio que alimenta a mesa de muitas e cuida do resgate da identidade e da autoestima das mulheres negras e não negras de Macapá”, ressalta Priscila Santos, chefe da divisão de Empreendedorismo e Fomento do Improir.

“Me senti poderosa e reconectada com as mulheres da minha ancestralidade ao me ver no espelho com os cabelos trançados. É uma forma de romper com o estereótipo de que o cabelo do preto é embaraçado e sujo”, afirma Kamilly Moreira, moradora da comunidade do Curiaú.

Para a trancista Gleicy Ferreira, fazer tranças nos fios crespos é uma tarefa complexa, delicada, exige destreza, cálculo, perspectiva, cuidado e um profundo senso estético. “É um conhecimento que vem de gerações e não é algo que se aprende em cursos ou escolas, as mulheres conhecem as tranças com suas mães e avós e repassam as técnicas”, afirma.

A diretora-presidente do Improir, Maria Carolina, ressalta que o trabalho de trancistas contribui para a divulgação da cultura e ancestralidade dos penteados de origem africana.

“Esta atividade fecha nossa programação do Novembro Afro, que exaltou o que nosso povo tem e que, em razão da discriminação, por vezes não é valorizado. A Prefeitura de Macapá, através do Improir, encerra o mês ressaltando uma das heranças mais fortes e que tem se transformado em um importante empreendimento de geração para geração. As tranças têm um papel ligado diretamente ao início da nossa história aqui no Brasil. Nosso papel como gestão pública municipal é evidenciar este saber ancestral e fazer com que nossas trancistas sejam vistas e valorizadas”, finaliza.