“A ação foi uma oportunidade de chamar toda a comunidade e moradores do bairro para dentro do terreiro, aproveitar os serviços oferecidos, cuidar da saúde e conhecer nossa religião”, disse Socorro Moreira, de 61 anos, representante da casa de matriz africana que recebeu nesta sexta-feira (2), o “Saúde nos Terreiros”, iniciativa da Prefeitura de Macapá.
O evento foi realizado no terreiro de Mina Nâgo Santa Bárbara, no bairro Santa Rita. A anfitriã da casa, mãe Socorro Moreira, conhecida como mãe de Oxum, conta que apesar de ainda existirem casos de intolerância religiosa, ela enxerga evolução.
“Já fui chamada de ’feiticeira’, não podia ir a cultos religiosos cristãos por me compararem a bruxa. Hoje os tempos são outros, claro, mais ainda temos muitas lutas. Vejo uma evolução na sociedade e isso deve ser mantido, receber essa ação em casa me enche de orgulho e mais ainda, por receber a comunidade e moradores do bairro que não tem preconceito. O corpo físico quem cuida são os profissionais de saúde, eu cuido da religiosidade. Deus é um só”, completou a sacerdote.
O “Saúde Itinerante” foi promovido pelo Instituto Municipal de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Improir), em parceria com as secretarias municipais de Saúde (Semsa), Assistência Social (Semas) e o Centro de Referência em Práticas Integrativas e Complementares em Saúde no Amapá (Cerpis/AP).
Durante dois dias de ações, foram oferecidos serviços de cadastro e recadastramento do CadÚnico, vacinas, clínico geral, caderneta de saúde da pessoa idosa, teste rápido, psicólogo, verificação de pressão arterial, auriculoterapia, quick massage, massagem terapêutica, reflexologia podal, ventosa terapia, quiropraxia e consultoria jurídica. Mais de 160 pessoas receberam atendimento.
A manicure Luana Moreira, de 37 anos, aproveitou quase todos os serviços e levou os três filhos para consulta médica. Ela diz que eventos como esse são necessários para dar visibilidade aos povos de terreiros, que ainda são vistos pela sociedade de forma diferente. O preconceito, segundo ela, prejudica o próprio acesso à saúde.
“É importante pontuar que no terreiro cuidamos da espiritualidade. Mas precisamos da matéria física bem cuidada. Dentro dos espaços temos chefes religiosos que são idosos e precisam de um olhar atencioso maior com a saúde. Uma parcela da população não usufrui dos seus direitos e não me refiro só os povos de terreiros, mas pessoas que estão longe de hospitais e UBS’s”, ressaltou.
Os três filhos de Luana se consultaram com o médico, e atualizaram a caderneta. “Ainda tive orientação do jurídico e sabemos que uma consulta com advogado tem um custo alto e hoje graças a essa ação da Prefeitura de Macapá e do Improir, tivemos esses serviços totalmente de graça”, comemora.
A diretora-presidente do Improir, Maria Carolina Monteiro, reforça a importância do “Saúde nos Terreiros”, que acontece desde 2021 nas casas de matrizes africanas, e que disponibiliza serviços de saúde à população, sobretudo, desmistificando e superando o preconceito.
“O Improir vem cada dia mais fortalecendo ações e projetos como estratégia de promoção da equidade, integralidade e valorização de políticas públicas voltadas aos povos e comunidades tradicionais de matrizes africanas em Macapá. É fundamental destacar que o ‘Saúde nos Terreiros’ promove uma vinculação no processo de cuidado através da oferta de diversos serviços nesses espaços historicamente estigmatizados”, pontou a gestora.
Veja como foi o “Saúde nos Terreiros” na casa Santa Bárbara: